PELO SONHO É QUE VAMOSPelo sonho é que vamos, comovidos e mudos. Chegamos? Não chegamos? Haja ou não haja frutos, pelo sonho é que vamos. Basta a fé no que temos, basta a esperança naquilo que talvez não teremos. Basta que a alma demos, com a mesma alegria ao que desconhecemos e ao que é do dia-a-dia. Chegamos? Não chegamos? ─ Partimos. Vamos. Somos. Sebastião da Gama Pelo sonho é que vamos Lisboa, Ed. Ática, 1992 |
A PRENDA QUE EU QUERIASe tu me entendesses, se tu me entendesses, meu pai, meu professor, meu amigo Se tu me entendesses, eu podia falar contigo Não na tua linguagem, mas na minha Podia até brincar contigo, contar-te histórias de bichos de conta, de borboletas azuis e amarelas, de estrelas e pássaros Se tu me entendesses, se tu pudesses regressar até mim, subindo ou descendo Eu podia abraçar-te, sem mais nada, só abraçar-te! Se tu me entendesses, eu não queria nada do que tu me queres dar Se tu me entendesses, eu ficava tão contente tão contente, que o meu riso havia de alegrar o teu mundo triste Se tu me entendesses, eu… eu sei lá! Se tu me entendesses, eu fazia-te festas, andava contigo de mão dada, cantávamos juntoS a canção da vida, corríamos pela erva verde Se tu me entendesses, ah! se tu me entendesses, não me ralhavas, não me davas ordens, não me batias, não me magoavas Se tu me entendesses, neste dia, que dizes que é meu, Se tu realmente me entendesses NÃO QUERIAS FAZER DE MIM UM HOMEM COMO TU E eu dava-te um beijo Um menino do mundo Júlio Roberto A prenda que eu queria Lisboa, ITAU, 1978 |